who would have known how bittersweet this would taste

 sonho ruim, esquisito. 

acho que estávamos em um cemitério, parecia algo assim. todo mundo de preto, um clima triste, chuvoso. não via mais ninguém, não sei quem tinha morrido, mas eu não estava arrasada, só triste. eu me sentia mal de estar ali, mas estava ali e sentia um aperto no peito, uma vontade de chorar. estávamos velhos, mais velhos do que somos e fazia muito tempo que não nos encontrávamos. só que eu sentia um alívio quando eu te via. foi maluco reconhecer esse sentimento. 

e então você me pedia pra entrar no carro e eu dirigia. não nos beijávamos, não nos abraçávamos, nada disso. você só me pedia pra ir buscar sua filha. não sei se era filho, se sou eu já misturando as coisas, mas você queria que eu fosse junto e eu ia. nada era dito, um silêncio profundo e um caminho obscuro. o carro subia, subia e eu dirigia sem dificuldade nenhuma. 

não era pra ela ser a mãe do seu filho, isso ficava claro. não lembro de conversar sobre isso, mas de saber. simplesmente saber. você me olhava e me dizia com os olhos - não sei como ou em que momento - que era pra ser eu. tinha que ter sido eu. e eu concordava com você, você tinha razão. aquele papel era pra ser meu, era eu que tava ali, porra! olha onde eu tava, o que é que tinha acontecido com a gente?

o sonho todo eu ficava com o peito apertado, uma angústia. então eu chegava ali e estacionava o carro. você me olhava e eu já sabia o que fazer. escadas, mais subidas e eu ia sozinha. chegava lá e ela me olhava com uma certa raiva. ela estava em trabalho de parto. o lugar não era bonito e ela me reconhecia. é como se nunca tivéssemos nos visto, mas ela sabia quem eu era. não consigo lembrar do rosto dela, mas sei que era loira. eu a ajudava a parir. tem noção do quão forte isso é? ajudava, dava a mão. fazia força com ela. fui eu que cortei o cordão umbilical. enquanto isso, você ainda no carro. a criança chorando ensanguentada no meu colo. 

nessa hora, a mulher some. a que não era pra ser mãe de um filho seu. e eu pego uma toalha e começo a limpar a criança, e vou descendo com pressa aquelas escadas, parece coisa de filme, de repente fica escuro e eu tenho que sair dali. te entrego o bebê pela janela do carro, sem dizer nada e começo a dirigir com pressa. acabamos de roubar um bebê, é isso mesmo? 

tá vendo como era um sonho perturbador? perturbado. doloroso. e o que mais me doía era sentir esse amor no peito. desses que fecha na goela, sufoca. 


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