presente

tenho medo de me tornar uma pessoa que pensa saber de tudo.

mas sou professora e estar em sala me fez ter a certeza de que as coisas tem mudado pra essa juventude. pra pior. tem pai que coloca filho no mundo para cu
mprir tabela de afazeres da vida, só pode. tenho criança de cinco anos de idade fazendo tarefa (errada/obviamente!) sozinha, pré-adolescente de dez assistindo filmes adultos, adolescentes de 15 que nunca foram num estádio de futebol (alô, alô, estamos no Brasil!). eles tem tudo. iphone do ano, festa em buffet, os melhores calçados, estojo de cem reais da stabilo. são sozinhos no mundo.

esses dias falei para uma turma que julgava a geração deles como loucos por tecnologia. levei um tapa na cara quando uma aluna me disse - com a confirmação de todos os outros alunos da turma - que achava que a geração dos pais deles eram muito mais encantadas com os novos gadjets do que eles mesmos. "eu tenho que implorar pra minha mãe desligar o celular quando está comigo." ao menos 70% da turma concordou. fizemos terapia express.

os passeios com os pais se resumem às voltas no shopping e sair pra comer. "mas aí a gente sai pra comer e eles ficam no celular. eles não conversam nem entre eles, é sério!", outro aluno comentou. a maioria disse que não recebe amor do jeito que gostaria - poucos beijos e abraços. "e o que vocês fazem em família?". silêncio. um sortudo disse lá do fundo que todo domingo escolhem um filme pra assistir juntos e que quando o tempo colabora andam de bicicleta no parque. "se eu chamar meu pai pra andar de bicicleta comigo eu juro prô, que ele dá risada da minha cara", disse outro. 
fiquei com o coração partido. cobro tanto o interesse desses alunos! Mas... o que eles recebem? Analisando friamente as novas famílias ao meu redor, conto nos dedos aqueles que realmente mostram possuir um ambiente familiar - de colo, afeto, segurança. será mesmo que a culpa é dos pais ou eles são naturalmente ingratos?

ao chegar em casa quando me vi acompanhando o feed aqui do blog, parei quando minha pequena mordeu meu braço. olhei bem pra ela, desliguei o celular. dei uns vinte beijos. estou aqui filha. presente! 

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