relógio
ter um filho é personificar o tempo.
eu sempre disse que o tempo passava rápido, mas não fazia ideia do que dizia até a chegada da minha pequena. ela redimensionou tudo aquilo que eu conhecia - incluindo minhas próprias forças! - mas entre as mudanças mais drásticas, ficou minha relação com o tempo.
de repente o relógio passa a ser contado pelas mamadas. as fraldas, vejam só, também são indícios dele. faz parte do tempo também os minutos da soneca que ela tira durante a tarde, os segundos que a mamadeira fica no micro-ondas, as horinhas curtas que eu tenho para arrumar a casa enquanto ela não acorda. é nele que penso enquanto dou uma escapadinha no shopping para fazer as compras de Natal, ou quando tento fazer caber em uma hora a depilação, a manicure e a pedicure, pois preciso voltar pra casa e estar com ela. não só preciso. quero.
mas o tempo mostra mesmo sua cara no rostinho dela. quando pego as fotos do seu nascimento e vejo quanto cresceu. quando ela pega com facilidade os brinquedos que ofereço e relembro a dificuldade que era acertar no começo. quando ela vira e desvira na cama com facilidade e eu me lembro de quando comemoramos pois a colocamos de bruços - e ela conseguiu erguer a cabecinha! o tempo se mostra em sua gargalhada, ao entender brincadeirinhas, nos gritinhos e tosses para chamar a atenção. o tempo está nela, em seus muitos centímetros e tantos quilos. o tempo está naqueles olhinhos, que abrem com um sorriso a cada manhã, ao me reconhecer e nos bracinhos que me procuram quando me vê.
caetano não podia descrever melhor:
"és um senhor tão bonito
quanto a cara do meu filho
tempo, tempo, tempo, tempo
vou te fazer um pedido
tempo, tempo, tempo, tempo..."
tempo, tempo, tempo, tempo
vou te fazer um pedido
tempo, tempo, tempo, tempo..."
Comentários
Mas para além das fofurices, é um delicioso texto sobre a relatividade do do Senhor Tempo e sobre como ele nos toca e ganha importância de diferentes modos, por diferentes - que ironia - tempos.