ruídos e silêncios
às vezes a gente precisa se fechar para
conseguir se ouvir. são tantos os ruídos de comunicação. a nova série de tv, a
buzina no trânsito, as contas que chegam já no início do mês, os problemas do
colega, os aniversários da família. tudo parece se ocupar de nós e nos deixamos
ocupar, porque de alguma forma o ruído abafa o grito. o grito do cansaço, do
medo, do desespero. ou simplesmente o silêncio do aperto. não sei qual deles
demanda mais atenção: o grito ou o silêncio. quem grita expulsa os demônios e com
eles pode ferir que passa perto. o silêncio trancafia os demônios no peito.
qual deles soa mais certo?
o ruído sempre causou em mim efeitos
colaterais. mais propensa ao grito que ao silêncio, vi meus demônios tomarem
conta da minha voz, rasgando aqueles que se postavam à minha frente com o
intuito de ajudar. só eram bem sucedidos em sair feridos. eu aproveitava de um
nirvava breve, enquanto escapava do desespero, atirando-os -os maus
sentimentos- naqueles que por vezes estavam de passagem. era um alívio
esvaziar-me. até que eu encontrava naqueles que eu amava, as cicatrizes da
minha catarse. seguiam-se dias de culpa, culpa que eu abraçava, pois merecia me
sentir miserável depois de atacar tanto os outros por nada. por nada. pra eles
ao menos, por nada.
então, me refugiei no meu silêncio. e com o
silêncio, os ruídos precisam ser ainda mais altos, pois caso contrário ele toma
o espaço, tal qual poeira - difícil de ver, fácil deixar permanecer. pode ser perigoso. ele toma conta sem que a gente perceba, entra nas nossas dobras e desdobras, caminha pela nossa mente a ponto de não nos deixar pensar em nada. domina a alma. congela o peito se fingindo de calma. faz doer sem sentido. e não há bom samaritano que nos estenda a mão, pois a poeira do silêncio tantas vezes é invisível! e não há em quem soltar a catarse, não há por quem sentir culpa de nirvana, não há nirvana. não há nada.
não há vontade.
não há expectativa.
não há raiva.
não há hobbies.
não há.
não há expectativa.
não há raiva.
não há hobbies.
não há.
minto. há um medo absurdo. desses que a gente grita sem som.
Comentários
Beijos
Mundo de Nati