pra tirar o pó
Sonhei com
você hoje. Um sonho maluco, sem começo, nem fim, desses que a gente só lembra
pedaço – e ainda assim desimportantes. Sonho desses que deixam só o sentimento,
quando não lembramos detalhe algum, mas quase tudo que sentimos. Meu coração
estava na boca e, antes que eu continue, no sonho me lembrei do formato da sua.
Engraçado como funciona o subconsciente, eu não lembrava que a tua tinha esse
formato coração, nem de como eram intercalados os seus dentes de baixo, mas ali
estava tudo isso, enquanto eu não abria os olhos, enquanto te ver ainda era
permitido. Não, nós não nos beijávamos, e talvez por isso eu não lembre bem do
gosto do seu beijo. Que diferença faz?
Havia uma
mulher e ela estava grávida. O filho era seu, eu tenho certeza, e tenho certeza
também que isso tem um pouco de tudo a ver com o fato de eu ter assistido
aquela loucura do Woody Allen ontem, e você mostrava sua felicidade. É por isso
que eu lembro tanto da sua boca, sua felicidade estava nela, naqueles
contornos, no formato coração. Acho que me concentrei nesse fato pela surpresa
de te ver feliz ao ter um filho com outra. Eu não consigo te imaginar em outro
relacionamento, não consigo te ver como homem, que dirá como pai! Foi um
choque. Meu coração ainda dá alguns pulos quando penso no que senti naquele
sonho.
Voltando ao
ponto principal: eu te amava. E esse era o sentimento mais esquisito de todos.
Foi o que me assustou logo a princípio, a ponto de me acordar o consciente no
meio daquela inconsciência toda. ‘Era assim que eu amava você’, meu corpo me
dizia. E eu pude sentir toda aquela sensação de novo, aquele torpor no corpo, o
medo de perder, o encantamento pelo sorriso, como eu gostava do seu sorriso e
ele nem era tão bonito assim. Comum. Como você pôde me abandonar?
Em
determinado momento do sonho você olha pra mim e aí é quando o mundo gira.
Quando eu caio de algum nível do sono – os médicos explicam melhor – e eu
percebo que estou sonhando, naquele entorpecimento, na busca por não acordar,
por ficar. Lembra um pouco “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”, só que
você não sabe o que está acontecendo e pelo seu olhar eu entendo que isso não
importa. De repente não há mais criança, não há mais outra mulher, não há mais
futuro, nem presente, só nós dois naquele passado. Num mundo que não conhecemos
nada e do qual não precisamos falar. Não há sexo, não há desejo, não há ânsia
de conversar ou contar a vida. Somos só nós dois e o que éramos e pelo seu
olhar eu entendo que há amor. Ah, o alívio, a sensação de paz ao entender que
ela não assumiu meu lugar, assim como ninguém vai. Eu não lembro se nos
tocamos, mais uma vez, é desses sonhos que a lembrança é vaga e a sensação
profunda. Acordei assustada, suando, presa naquele nunca.
Não era sonho. Foi pesadelo.
Comentários
Também tenho desses sonhos malucos em que a sensação é mais profunda e forte que a sensatez.
Obs: tb tirei o pó do meu canto =)
Bjs
Beijos querida!
Eu ouso afirmar que, por todas as linhas, pesadelo é que isso não parece ter sido. Haha. Na sua narração cheia de queroagoraenãoqueromais mistura muito amor e muito medo. Sonhos permitem ser assim, não? Mas parece que o receio maior é encarar a realidade.
Eu gostei muito da tua escrita. Volto se você permitir.
Um beijo,
Jaya.