rascunho

tem dia que é rascunho. 

desses que a gente faz a caneta, com a pior letra e todos os erros de português do mundo. que escreve discussão, sem parágrafo, vírgula ou travessão: "eu te odeio você é um bêbado você não me merece você é egoísta olha como se valoriza vê se desce do salto vê se me erra um pouco de humildade por favor em que mundo você acha que isso que você diz sentir por mim é amor"?. escreve em caixa alta, misturando letra cursiva e letra de forma, misturando temas desconexos, colocando na história, personagens que dela nunca participaram. não adianta tentar fazer coerência, o texto não tem nenhuma, e quando você pega pra ler do início percebe o lixo que aquilo ficou, e ainda não contente, tenta fazer uma letra mais bonita pra salvar, mas já era, já foi, o mal tá feito. você devia ter parado no primeiro parágrafo pra reler, pensar e conduzir da melhor forma. mas não o fez. e como não o fez se culpa. se frustra. se condena. e por fim pega a caneta pra riscar tudo aquilo e risca com força, com força mesmo. quase rasga a folha. dá pra amassar, jogar no lixo, picotar e esquecer.

tem dia que é rascunho.

que já amanhece errado.

que não dá pra salvar, jogar no lixo e esquecer.

é cruzar os braços, abaixar a cabeça e chorar. 

até a raiva se esconder.