das mãos do mar
eu entrei no mar só para agradecer.
sempre espalho aos sete ventos que não há lugar que eu me sinta mais perto de Deus que na praia. no mar, mais precisamente – talvez até por isso eu peça licença toda vez que entro. é fechar os olhos e sentir a força da vida batendo nas costas, a água gelada acordando a alma, ou quem sabe, a água quente dando colo ao coração. é um encontro com a paz, momentos em que eu esqueço de tudo completamente ou, pelo contrário, tomo consciência da vida inteiramente. sou mais eu mesma naqueles minutos de banho do que em qualquer outro momento da rotina. não há nada que cole mais os meus pedaços quebrados que o sal do mar. vou sentindo a alma se recompor de maneira delicada e cada onda que chega é feito abraço.
gosto de entrar no mar sozinha. nada contra companhia, mas no primeiro momento mantenho a boca fechada para falar mais diretamente com Deus, com o céu, comigo mesma. é feito um ritual, deixo a onda levar tudo de ruim enquanto me traz tudo de bom. fecho os olhos e peço com fé: leva a tristeza, arrasta a angústia, me livra do medo. me traga sorrisos, me presenteie com a felicidade, me entrega confiança. feito mantra. sempre funciona.
naquele dia não foi diferente. fechei os olhos e no primeiro mergulho senti o mar me fazendo carinho nos cabelos, ajeitando-os para trás, me benzendo. e então agradeci. a família, a casa, a comida, a alegria da minha priminha, a saúde daqueles que amo, o emprego, os amigos que me são fiéis, a vontade de amar apesar de tudo, o tempo aberto, a paz que eu sentia naquele momento. não sei porque pensei em Iemanjá. acho que minha prima havia comentado alguma coisa sobre ela ser feito Nossa Senhora, uma mãe para o mar. e se ela é mãe do mar, é mãe de Deus – foi o meu raciocínio. ah, Nossa Senhora, ah Iemanjá. não hei de pedir mais nada para o seu filho, acho que O atormento tanto com coisas tão tolas. levo comigo um coração partido, mas aqui ainda sem pedir ele me faz ser uma só de novo, então deixa pra lá. mas se a Senhora é mãe, sabe o que eu levo no peito né? não preciso pedir. mãe entende sem palavra.
e ela me entendeu. foi no silêncio do mar que eu saí deixando um pedido escapulir sem querer e sem nada dizer. o que você quiser, eu venho e te trago – pensei. dei tchau para o mar e troquei duas palavras na areia antes de olhar para ele de novo. e lá estava ela, no chão, feito oferenda entregue aos meus pés. a concha mais bonita de todas. pura e branca por dentro, o degradê de tons de rosa por fora. delicada e dura. resistente. presente. eu a peguei nas mãos e senti que nela continha meus sonhos, meus desejos, um trato. nela tinha Iemanjá, Nossa Senhora e por que não, Deus? mãe escuta sem palavras e naquele momento eu fiz um trato. deixei meu coração no mar e trouxe a concha para casa. quando eu tiver pronta, destrocamos. enquanto isso cuido da concha como se ela fosse meu coração. delicado, presente e resistente. como se fosse meu.
Comentários
Te amo!
Acho que foi uma troca importante. Esse seu coração merece um cuidado de mãe enquanto você se fortalece.
Guarda bem essa concha. <3
Beijo!
de uma delicadeza e intensidade tocante.
cuide dessa concha com todo carinho.
sem dúvidas foi uma resposta...
te amo mto.
♥
Bjos, Flá!
O mar realmente nos traz uma energia maravilhosa. Pena que vou com pouca frequência.
Beijo!
Chorei e chorei muito.....não consigo expressar o que estou sentindo agora mas estou feliz por vc.
Que Iemanjá guie os seus passos e seu coração sempre.
Beijos da sua fã número 1, EU!