da saudade
Hoje à tarde, assim que saí da escola peguei meu celular e
com o coração quente vi que minha amiga tinha me mandado uma mensagem, mais
precisamente uma foto. Você pode achar que não há nada demais nisso, não fosse
o fato da minha amiga estar em Israel. Fiquei alguns minutos no estacionamento
trocando áudios pelo whatsapp e correndo riscos no trânsito, para enviar uma
foto ou outra.
Tenho outro amigo, cujo amor permanece intacto desde os meus
três anos de idade, que está na Austrália e não consigo descrever a sensação
deliciosa que é poder ver aquele rosto (emagrecido) pelo vídeo do Skype. Dá
vontade de beijar aquela testa pela tela do computador, mas como não dá, faço
coraçõezinhos com a mão e escrevo mais “eu te amo” que o de costume.
Depois de uma semana especialmente turbulenta, cheguei em
casa e vi que minha amiga Couth também tinha me mandado mensagens e conversamos
sobre o quanto é difícil encontrar pessoas parecidas com a gente no mundo de
hoje e o quanto adultecer chateia. Ao final da conversa, minha vontade era
pedir pra ela vir jantar aqui em casa enquanto assistimos um filme tosco, mas
por algum erro geográfico ela acabou nascendo em Fortaleza e eu aqui em São
Paulo.
E então eu fechei meus braços e sentei no sofá pensando que
eu tenho vinte e quatro anos, mas que já estou cansada de muitas coisas.
Especialmente de sentir saudade. É saudade o tempo todo. Já não me bastava
todas as faltas que a vida já me deu de presente amarrado – um amor que foi,
mas nunca vai; a tranquilidade da infância; os olhos azuis do meu avô; as
cócegas do meu tio; a farra da adolescência, entre tantas outras coisas – eu ainda
tenho que aturar meus amigos estando longe?
É maravilhoso perceber o quanto uma amizade verdadeira pode
transpor a distância – muitas vezes até nascer dela (alô, minhas mafiosas
queridas!) – mas a verdade é que tem hora que a gente quer aquele abraço. Que
eu daria tudo pelo colo da minha amiga Hári com uma panela de brigadeiro na
frente. Ou pelos beliscões sempre inesperados do meu amigo quase australiano. E
meu Deus do do céu, pela voz da minha amiga Couth me dizendo que eu não sou
maluca, mas que vai achar o endereço daquele filha da puta e fazer ele se
tornar um homem de vez. Por mais que o texto às vezes encurte as distâncias, tem hora que o toque das teclas não basta, muito pelo contrário, faz aumentar ainda mais a necessidade do verdadeiro toque. Da presença.
Fico imaginando um mundo onde todos os meus amigos moram perto, uma rua inteira de mafiosas e Israel logo na rua de trás, a Austrália na esquina da frente. Meu avô me vendo estacionar o carro novo, meu tio me dando um pen drive do Zeca Pagodinho, meu grande amor sentado no banco de passageiro me fazendo carinho. Nas conversas entre todos nós a inocência da infância e noite adentro a farra da adolescência.
Li outro dia que a saudade é um amor que fica. E como todo amor de verdade dói.
Comentários
Sempre fui atormentada com esse sentimento, e hoje especialmente, como ele está doendo em mim. E que lindo esse seu último parágrafo - quantas vezes já não imaginei a gente morando no mesmo prédio, tipo Friends?
Meu Deus, o que eu daria para saber me teletransportar às vezes!
Eu te amo!
Arrepiei lendo isso, Flá! Sabe que no início da Máfia, quando a gente ainda não se conhecia, eu, na minha ingenuidade, cheguei a pensar que seria fácil lidar com a distância, afinal a gente não conhecia outra coisa. Aí no primeiro encontrão a Analu chegou pra mim e disse: tá tudo muito bom, mas quando isso acabar aí a gente vai ver o que é saudade.
E olha, dói viu? Nem preciso te contar porque você já descreveu bem demais. Dói, e mesmo que eu me sinta muito próxima de muitas pessoas que me fazem falta, tem dias que não é suficiente e folia nenhuma dá conta do buraco que sinto aqui quando penso que não basta atravessar a rua ou andar alguns quarteirões para estar com vocês, com meus tios que moram longe e outros amigos que mudaram de cidade.
Acho que devíamos viver igual em Friends, todas no mesmo prédio, fazendo hora o dia inteiro num café ali na esquina. As portas sempre destrancadas, a gente roubando comida da Giu e da Renata (hahahaha) e fazendo festa do pijama todo fim de semana!
Apesar da dor, gosto de pensar que é sempre melhor ter um amor que fica do que um que vai embora pra sempre, né?
Muitas saudades, Flavitcha! <3
Beijo!! Ah, saudade de ti! Sempre!
Amo!
Eu compartilho da sua vontade de querer os amigos por perto, família. Faz tanta falta!