ah, a vida adulta
eu hoje senti o gosto doce da minha infância.
senti o peso que de tão leve era inexistente, nas costas daquela menina que gostava de andar de bicicleta e comer algodão doce. senti na pele a alegria das tias em uma festa de criança, o carinho doce do olhar do meu avô me desviando dos percalços, a brisa suave que era uma gargalhada em dia de festa e a certeza de que vilões tinham cara feia e viviam escondidos na floresta. naquele tempo as pessoas costumavam ser tão simples: o tio brincalhão, a prima incrível, a tia engraçada, a avó cantora, o primo galã. quão fácil era ser criança.
mas ah, a vida adulta. quão difícil é crescer e sentir o peso sendo colocado em nossos ombros como mochila do colégio com um número incalculável de livros, só que desta vez sem poder tirar. como é complicado entender que festas nem sempre acontecem para festejar, que um dia se tem cinco e dali dois já se completam vinte e cinco e que a vida vai te tirar alguns daqueles olhares que você mais amou. que desafio é perceber que o riso já não vem fácil e que gargalhadas aparecem em dias especiais. mas não há dificuldade maior do que entender que as pessoas nem sempre são as mesmas. não há desafio maior do que perceber que as vezes aqueles que mais amamos são justamente os que irão nos ferir mais fundo. quanta amargura há na compreensão de que nem só de pessoas boas vive o mundo e que desfilam por aí como se fossem uma de nós. vilões da vida real, abraçando, sorrindo, cumprimentando e fingindo amar destilando veneno em qualquer esquina - e quase nunca na forma de uma maçã.
ah, a vida adulta. foi no seu azedume que compreendi a doçura da infância. foi com o seu peso desmedido e quase insuportável que compreendi a leveza de quando criança. foi na sua estrada que compreendi que os tombos mais doloridos são aqueles cuja alma tropeça. foi com medo e assombro que entendi que as pessoas usam máscaras pelo mundo e que de alguma forma todas elas caem. e foi com a sua sabedoria e discernimento que compreendi: Graças à Deus que caem!
Comentários
Beijo
Os venenos destilados na vida adulta são péssimos.
Realmente nada melhor do que a vida na infância.
Texto muito bom! Abraço!
coelhosdechapeu.blogspot.com.br