como uma ideia que existe na cabeça e não tem a menor pretensão de acontecer
acho que eu tinha uns sete anos a primeira vez que me vi casada com
você.
deve ter sido na primeira
festa junina que colocaram a gente de noivinhos, que eu fui de noiva e você
chegou atrasado. você sempre chegou atrasado. eu me lembro que foi mais ou
menos nessa época que eu parei de implicar cada vez que alguém cantava um
"tão namorando. tão namorando!". dos dez aos doze eu posso ter dado
uma certa desencanada, mas a verdade é
que aos treze eu já comecei a acreditar, secretamente, em uma teoria: a de que
de fato casaríamos. eu acho que eu nunca me permiti acreditar nela
inteiramente, mas a verdade é que era uma ideia dessas que vem e passam mas que
nunca passou.
"nem quando você esteve com ele?" quase consigo ouvir você
perguntar. e eu te respondo mentalmente
em diálogos que nunca existiram aqui fora, mas que sempre permearam aqui dentro
com tanta força que as vezes quase confundo vontade com realidade: nem quando eu estive com ele. veja bem, eu realmente
acreditei, eu piamente acreditava que me casaria com ele mas essa era uma ideia
que eu deixava existir, eu me permitia florear, imaginar a igreja a expressão
dele me vendo entrar no altar. você não. meu casamento com você era um
sentimento tão presente e tão escondido, que era quase como uma traição,
tamanho o susto que essa semelhança com a certeza me causava.
eu ainda não deixo esse sentimento vir com força. sei o quanto meu
coração palpita cada vez que escuto esta insanidade vindo da boca de qualquer
amiga, até daquela que nos viu criança e sempre insistiu em dizer que era capaz
de ver o filho que teríamos (teremos?), mas só o que deixo escapar da boca é um
"claro que não, a gente sempre se desencontrou, nunca deu certo, ele tem
uma namorada, tá do outro lado do mundo, ela é linda, ele merece ser
feliz" enquanto esse sentimento obscuro me grita em cada poro do corpo
"mas vocês nunca se perderam, é uma amizade tão certa, vocês tinham que
viver outros amores para ter certeza do que serão, quem se desencontra demais é
porque quando encontra vai viver um turbilhão". mas eu me silencio,
chacoalho a cabeça e me asseguro de que tudo isso é só parte louca do meu
romantismo idiota e da minha carência exacerbada. é um sentimento que não se
diz. feito uma ideia que existe na cabeça e não tem a menor pretensão de
acontecer.
Comentários
Ai como é delicioso poder ler seus textos!
ou é só o medo do "e se amanhã não for nada disso?"
(:
www.amantesdiamantes.blogspot.com
e eu já estou ouvindo - e curtiiindo! - Mumford and Sons, haha! É bom (: e eu estou na primeira música que apareceu aqui: Little Lion Man.
beijo, beijo!
Goiabasays
Pois eu achei muito lindoo.
Vim retribuir a visitinha e me deparo com palavras tão envolventes. E magicamente, tão semelhantes a certas situações da minha vida.
Muito semelhantes mesmo.
Adorei.
Gostaria de um livro seu!
Beijos!
Luuuuv