entre goles e garfadas
eu sempre bebi o amor de um gole só.
acreditei a minha vida inteira que amor de verdade é aquele que lenine tão lindamente transformou em versos cantando "avassalador/chega sem avisar/ toma de assalto atropela/ vela de incendiar". sempre achei que amor é uma entrega antes que doce, maluca, endoidecida e despreparada que toma mente, corpo e alma de um só golpe. pensava no amor feito chama acesa - e nunca pensei em vê-la se apagar.
minhas amigas haviam me feito pensar em outros tipos uma porção de vezes. uma delas, especificadamente, ficou na minha memória. ela uma vez, de maneira muito doce me disse que acreditava que o amor podia ser construído, tijolo a tijolo, devagarzinho e então se transformar em uma casa sólida, de alicerces permanentes e seguros. lembro de ter discordado mas ficado quieta, porque nunca fui de bater de frente e temia que o tema virasse discussão. virei a cabeça pensando que definitivamente não. amor de conta-gotas? que triste a vida dos que optaram por esse prêmio de consolação.
e então o tempo passou e a fonte de onde eu bebia meu amor sôfrego parou de jorrar. e aí eu parei pra pensar. quem bebe o amor de um gole só corre o risco de ter sede. já que as associações estão espalhadas pela mesa, me lembrei que eu costumo deixar sempre meu pedaço favorito para o final e assim saboreio melhor cada garfada. o último pedaço escolhido sempre me deixa com vontade de ter mais. aqueles que comemos na pressa deixam de ser memoráveis e marcantes, nunca são especiais e ainda nos fazem correr o risco de ter uma indigestão logo depois. e talvez não seja assim tão ruim ter um amor conta-gotas, porque assim a gente vê com antecedência que o líquido está acabando, tem mais tempo pra repor...
associações ridículas deixadas de lado, me surpreendi pensando que talvez amar devagar seja bom. aquele amor que começa com a cabeça, abraça o corpo pra só depois envolver o coração parece realmente mais bem calculado e arquitetado, mais preparado pra ser duradouro e feliz. talvez esse seja o amor dos maduros e talvez este fosse o último passo que preciso dar pra deixar de vez a sombra da adolescência lado. já não era sem tempo. talvez não seja tão ruim assim amadurecer.
(agora é aprender a beber)
Comentários
Beijo.
"quem bebe o amor de um gole só corre o risco de ter sede." lindolindo
:*
Parabéns, muito bom.
beijo.
E assim, tudo funciona lindamente!
<3
E de verdade, prefiro um amor como um raio (rápido e intenso) do que um amor morno... Tenho amigas que namoram pra testar, sabe? "Ah, o carinha é legal comigo, faz de tudo por mim, vou tentar..." e porra, eu não consigo ser assim. Pra mim tem que me deixar sem chão, tenho que ter certeza que é com essa pessoa que quero estar. (POR ISSO TÔ SOZINHA, AF) haha
beijos
Afinal, quem pode dizer o que é o amor?