memórias de cloro
fui no poupatempo da sé essa semana e em meio à todas aquelas pessoas consegui sentir o cheiro de um passado bom.
eu precisava renovar com urgência minha carta de habilitação e ia acompanhada da minha madrinha querida e de certa pressa para passar por aquele turbilhão de gente e cheiros desagradáveis tão próprios daquele lugar (só quem conhece sabe) quando passamos por uma fonte. sim, uma fonte no meio do corredor do metrô, que faz ligação da linha diretamente com o poupatempo. de repente, eu parei. minha tia me olhou assustada, e seguindo meus olhos, viu que eu olhava para a fonte, toda envolta em grades e de queda forte de água. "que foi?- ela riu - tem grade por causa dos mendigos. antes esse era o banho bom diário deles". pedi que ela chegasse mais perto e sentisse o cheiro. "tia, fecha os olhos e sente esse cheiro. o que te lembra?". menos de meio segundo depois ela me olhou e disse, surpresa, "é cheiro de clube." e era isso mesmo. era cheiro do clube.
cheiro de água da piscina da minha infância vivida naquele clube, a quilômetros de distância daquele metrô, nos meandros daquele espaço, descendo no tobogã vermelho, me aventurando escondida no amarelo, das tardes de sol passadas ali no meio da piscina comprida, eu e sis pousando pra fotos tradicionais no jacaré ali do meio, minha mãe de chapeuzinho, um olho fechado e outro aberto, sempre olhando por nós enquanto torrava no sol e meu pai, sempre pronto e disponível dentro da piscina, os braços no alto e os olhos verdes escuros me enchendo de coragem: "vai filha, pulão, mas fecha o bocão! olha o bocão! sem por a mão no nariz!". ai que dor no coração. e lá fora, observando a família bem feita, ou talvez, quem sabe, jogando uma partida de baralho com outro aposentado, meu vô sempre tão querido, me observando pelas grades verdes, com seus olhos azuis-água, comprando cachorros quentes, camisetas da lusa, protetores solares e brinquedos baratos para passar o dia. ah, aqueles dias! que saudade daqueles dias!
estávamos paradas em silêncio, mergulhadas nas nossas próprias memórias, quando minha tia sempre pronta pra fazer humor sarcástico em horas de melancolia me vira e diz: "menina, isso na verdade é cheiro de cloro! quanto não devia ter naquelas piscinas!". eu ri gostoso, e falei enquanto retomávamos o passo perdido: "pois é. e quem se importava, tia?"
Comentários
Um beijo!
Cheiro é uma coisa de louco, né?
Beijo! <3
Bem me lembro dos dias que eu me divertia horas no clube, descendo no tobogã azul na piscina que não me dava pé e hoje bate no meu umbigo! hahaha
E eu mega ri na parte do seu pai falando pra tu fechar a boca! hahaha
amei (: