do tipo padrão
eu costumava querer sempre mais, sem freios.
se alguém me perguntasse uma palavra bonita dizia amor, mas logo depois pensava em outra: intensidade. gostava de tudo que era grandioso, tudo que era enorme, tudo que era infinito, vibrante, enorme. me entregava às emoções com uma facilidade indescritível: chorei amor por todos os lados, porque não podia entregá-lo para quem o fazia nascer e passei noites acordadas relembrando beijos, toques, cheiros. eram migalhas, mas eu as fazia parecerem banquetes. pra mim melhor cidade do mundo era são paulo, por suas características, seus prédios gigantescos, sua mania de superlatividade, por ser a locomotiva do país. eu amava extremos e sentia dó de quem não os admirava como eu, pensando "como deve ser pálida a vida de quem se contenta com tão pouco". eu queria ser reconhecida, estar no topo da colina, a melhor jornalista, na melhor revista, da melhor empresa, estar em todos os lugares, incansável. melhor dizendo: insaciável.
parece que foi ontem mas ao mesmo tempo tenho a impressão de que faz uma eternidade. peguei alguns dias de folga, sem viajar, nada de praia, sol e mar e coisas do tipo. só eu. minha família. meu amor. meus filmes e livros. senti aqui bem dentro de mim como se nada mais faltasse, como se fosse só isso. não quero mais estar no topo de nada, eu quero a felicidade e a saúde dos meus e nada mais. aliás, só um pouquinho mais: poder desfrutar do convívio deles. e vejo o futuro assim, uma professora talvez, pegando os filhos na escola, passano na casa da irmã e da tia, preparando a janta, assistindo um bom filme. tipo padrão. essa é a minha praia agora, essa é a minha paz. paro e penso hoje "como é vívida a vida destes que se contentam com tão pouco".
Comentários
Lindo o texto, como sempre, Flá!
Beijos
beijos
:)
Lindo texto.
Beijos :)