toda forma de amor
entraram duas meninas de mãos dadas e olhar apaixonado no metrô.
uma delas tinha o cabelo curto, de um preto quase azul e braço todo tatuado: flores, faixas e dizeres. fiquei babando em cada um desenhos pensando "que pena que eu nunca vou ter coragem de fazer isso tudo em mim". acho lindo. tinha também a orelha cheia de piercings e usava calça larga e camiseta. era muito bonita. a outra vestia saia rosa, regata justa, tinha a pele sem nenhum risco ou desenho e usava uma maquiagem impecável. era linda. tive a impressão de que junto comigo, todos os olhares daquele vagão lotado haviam pousado os olhos nas duas. a mão da primeira suavemente colocada na cintura da segunda, a aliança prata na mão esquerda de cada uma. mais que tudo isso, o olhar. o carinho mútuo sem gestos. percebi que a razão do meu olhar, no entanto, era diferente da razão dos outros. senti o incômodo alheio, os olhares agoniados, cheios de repreensão. dois meninos de uniforme com uns 15 anos, cutucando-se e dando risadinhas. uma senhora que sentava-se à frente das duas e que só olhava para os próprios pés. um homem com cerca de 45 anos com os olhos fixos em cada movimento das duas balançando a cabeça de quando em vez. "que difícil deve ser", pensei. viver numa espécie de big brother todo santo dia, ser apontada, acompanhada de risadas, cabeças baixas e olhares curiosos. senti um medo temeroso de repente. "será que elas acharam que eu fazia parte desse time?". quase que corri até elas pra dizer com pressa, "olha, eu não julgo vocês duas não viu? eu tava olhando suas tatuagens, que achei linda. e também a sua saia, que achei maravilhosa. eu juro!". pois essa era a verdade. ao mesmo tempo senti vontade de ficar entre as duas feito segurança e dizer em alto e bom som " que é que é cambada? que é que tá todo mundo olhando? vão cuidar das suas vidas!".
mas não fiz nada. continuei ali sentada, e resolvi abrir um livro. não li uma linha. fiquei só ali pensando que estamos em doismiledoze e tem gente com quinze anos que pensa estar no século passado. estamos em doismiledoze e tem gente que acha que tem o poder de sair por aí reprimindo amor.
eu vi duas meninas de mãos dadas e olhares apaixonados saindo do metrô. eu também vi o preconceito.
uma delas tinha o cabelo curto, de um preto quase azul e braço todo tatuado: flores, faixas e dizeres. fiquei babando em cada um desenhos pensando "que pena que eu nunca vou ter coragem de fazer isso tudo em mim". acho lindo. tinha também a orelha cheia de piercings e usava calça larga e camiseta. era muito bonita. a outra vestia saia rosa, regata justa, tinha a pele sem nenhum risco ou desenho e usava uma maquiagem impecável. era linda. tive a impressão de que junto comigo, todos os olhares daquele vagão lotado haviam pousado os olhos nas duas. a mão da primeira suavemente colocada na cintura da segunda, a aliança prata na mão esquerda de cada uma. mais que tudo isso, o olhar. o carinho mútuo sem gestos. percebi que a razão do meu olhar, no entanto, era diferente da razão dos outros. senti o incômodo alheio, os olhares agoniados, cheios de repreensão. dois meninos de uniforme com uns 15 anos, cutucando-se e dando risadinhas. uma senhora que sentava-se à frente das duas e que só olhava para os próprios pés. um homem com cerca de 45 anos com os olhos fixos em cada movimento das duas balançando a cabeça de quando em vez. "que difícil deve ser", pensei. viver numa espécie de big brother todo santo dia, ser apontada, acompanhada de risadas, cabeças baixas e olhares curiosos. senti um medo temeroso de repente. "será que elas acharam que eu fazia parte desse time?". quase que corri até elas pra dizer com pressa, "olha, eu não julgo vocês duas não viu? eu tava olhando suas tatuagens, que achei linda. e também a sua saia, que achei maravilhosa. eu juro!". pois essa era a verdade. ao mesmo tempo senti vontade de ficar entre as duas feito segurança e dizer em alto e bom som " que é que é cambada? que é que tá todo mundo olhando? vão cuidar das suas vidas!".
mas não fiz nada. continuei ali sentada, e resolvi abrir um livro. não li uma linha. fiquei só ali pensando que estamos em doismiledoze e tem gente com quinze anos que pensa estar no século passado. estamos em doismiledoze e tem gente que acha que tem o poder de sair por aí reprimindo amor.
eu vi duas meninas de mãos dadas e olhares apaixonados saindo do metrô. eu também vi o preconceito.
Comentários
- Vocês são dois homens? E são namorados? Vocês se beijam? Meu Deus! Isso quer dizer que... que.. que vocês se amam! Que legal!
E foi brincar.
Tipo.
Dizem que as coisas mudaram...
Porque então olham para o diferente como bichos, como estranhezas?
Aff
Doismiledoze mesmo, com mentalidades de séculos passados.
Amei o Post.
PARABèNS
Uma vez eu estava no metrô com a namorada da época. O máximo que fizemos foi uma mão na cintura e um mísero selinho rápido. Foi o bastante pra um velho começar a fazer escândalo. Uma outra mulher deu suporte falando que ele estava certo em agredir a gente porque não é isso que se ensina em casa pras crianças. Uma terceira pessoa disse "pois deveriam, assim já aprendem a conviver com as diferenças desde cedo".
A outra vez foi esse ano, com minha namorada de agora. Nós somos um casal discreto, não achamos nenhum tipo de pegação agradável assim em público, seja hétero ou homo. Noite dessas estávamos sentadas nas escadas de uma estação de metrô. Eu estava um egrau acima e ela sentada entre minhas pernas. Do nada um velho levemente alcoolizado surgiu e começou a falar "tá faltando macho no mundo?". De princípio ignorei, mas daí ele começou a ameaçar AGREDIR a gente. Dizia que ia dar uma surra. Comecei a peitar (era velho e estava bêbado, um empurrão e ele quebrava a bacia). O velho cada vez mais vindo pra cima. Ele só parou de gritar sandices quando percebeu que três caras altos fortes e mau encarados o encaravam só esperando ele levantar a mão pra gente. Aí ele enfiou o rabinho no meio das pernas e foi embora de cabeça baixa.
O que me incomoda é que se fosse um casal heterossexual praticamente fazendo sexo na escada ninguém se incomodaria.
Blog muito legal,abraço,paz e alegria nos teus dias!=)
Mas sabe oq mais te dói? Voltar pra casa e n contar nada para a familia, pq assim como fui vista e julgada na rua seria dentro de casa e isso doeria infinitamente mais por vir de pessoas q eu amei a vida inteira.
*ps: acho q vou ler todos os textos desde o começo se eu continuar assim* kkkkkk