particularidades de sampa
centro de são paulo, avenida são joão, 10:10 da manhã.
o verão já terminou mas ainda faz um sol de rachar na cidade. eu não sei por qual razão, mas aqui sempre convivi com os extremos: quando é frio, é muito; quando é calor, maior ainda. o chão da são joão só dos pedrestes (e dos carros apressados de polícia) continua insuportavelmente disforme e infelizmente sujo, com alguns lixos jogados em determinados cantos e um ácido aroma de xixi que parece impregnado por ali. sempre que passo, penso "isso aqui podia ser tão bonito, isso aqui podia ser bem cuidado, podia ser recife antigo", porque o ambiente todo me lembra aquele canto gostoso do nordeste, com barzinhos e papo bom, noite animada, artistas de rua. mas que nada. as autoridades não se interessam e o povo mesmo não cuida. já vi um monte de plantinha ser plantada no dia, pra no outro já serem roubadas e vendidas na esquina da frente. é uma tristeza.
mas não vim aqui pra lamento. no corredor da são joão só dos pedestres tem uma galera hippie, toda tatuada, que vende de tudo: colar, brinco, cachimbo, disco de vinil antigo, quadros e cachimbos. tem também uns africanos que vendem umas máscaras lindas, gringos devem pagar caríssimo. já vi cenas que me marcaram por ali, como num dia em que chovia fino e frio e o tiozinho segurava um guarda chuva maltrapilho, dividindo espaço com um vira-lata bonitinho. outra vez foram as crianças, duas, vestidas cheias de correntinhas feitas de semente, pulseirinha do reggae de pano brincando de casinha, com uma boneca que só tinha a cabeça e outra sujinha, também de pano. mas surpresa mesmo foi essa semana. um rapaz de óculos e vestido de social colocou ali, no meio da rua um som. isso mesmo. e potente! o mais chocante era o que tocava: música clássica. inusitadíssimo. todos que passam viram, olham, param chocados. dá uma sensação esquisita, inebria a alma, cala o coração. eu me senti como em cena de filme, aquele monte de formiguinha indo e vindo trabalho, trabalho, trabalho. tinha fila pra comprar o tal cd, você entende? centro de são paulo, ambiente decadente, drogas, povo cansado, trabalhador, apaixonados, fissurados por música clássica. o povo gosta de cultura, basta ter acesso à ela.
eu mesma comprei um. não vejo a hora de chegar em casa e botar pra ouvir.
o verão já terminou mas ainda faz um sol de rachar na cidade. eu não sei por qual razão, mas aqui sempre convivi com os extremos: quando é frio, é muito; quando é calor, maior ainda. o chão da são joão só dos pedrestes (e dos carros apressados de polícia) continua insuportavelmente disforme e infelizmente sujo, com alguns lixos jogados em determinados cantos e um ácido aroma de xixi que parece impregnado por ali. sempre que passo, penso "isso aqui podia ser tão bonito, isso aqui podia ser bem cuidado, podia ser recife antigo", porque o ambiente todo me lembra aquele canto gostoso do nordeste, com barzinhos e papo bom, noite animada, artistas de rua. mas que nada. as autoridades não se interessam e o povo mesmo não cuida. já vi um monte de plantinha ser plantada no dia, pra no outro já serem roubadas e vendidas na esquina da frente. é uma tristeza.
mas não vim aqui pra lamento. no corredor da são joão só dos pedestres tem uma galera hippie, toda tatuada, que vende de tudo: colar, brinco, cachimbo, disco de vinil antigo, quadros e cachimbos. tem também uns africanos que vendem umas máscaras lindas, gringos devem pagar caríssimo. já vi cenas que me marcaram por ali, como num dia em que chovia fino e frio e o tiozinho segurava um guarda chuva maltrapilho, dividindo espaço com um vira-lata bonitinho. outra vez foram as crianças, duas, vestidas cheias de correntinhas feitas de semente, pulseirinha do reggae de pano brincando de casinha, com uma boneca que só tinha a cabeça e outra sujinha, também de pano. mas surpresa mesmo foi essa semana. um rapaz de óculos e vestido de social colocou ali, no meio da rua um som. isso mesmo. e potente! o mais chocante era o que tocava: música clássica. inusitadíssimo. todos que passam viram, olham, param chocados. dá uma sensação esquisita, inebria a alma, cala o coração. eu me senti como em cena de filme, aquele monte de formiguinha indo e vindo trabalho, trabalho, trabalho. tinha fila pra comprar o tal cd, você entende? centro de são paulo, ambiente decadente, drogas, povo cansado, trabalhador, apaixonados, fissurados por música clássica. o povo gosta de cultura, basta ter acesso à ela.
eu mesma comprei um. não vejo a hora de chegar em casa e botar pra ouvir.
Comentários
no lugar da cracolândia agora tem especulação imobiliária. no lugar da avenida ipiranga com a são joão, lugar que fazia os corações despertarem, existe um tanto de solidão.
lendo seu texto, me deu saudade de casa, mas é uma saudadezinha tão tranquila, de uma coisa que eu acho que nunca vivi.
amnésia dá medo mesmo! imagina só... eu tenho pânico só de pensar.
um beijo!
Ouviu o cd já?? :)
Beijo!
Ah, essa cidade é o amor e o ódio, e ainda assim encantadora.
Abraço.
beijo
é engraçado, eu não gosto de são paulo, acho uma cidade fria e triste para morar, eu não moraria lá, mas o que a gaby falou é verdade, é uma cidade encantadora, simplesmente diferente. Eu não gosto, mas não posso deixar de afirmar que é uma cidade poética, uma cidade incrivel. Parece que tudo acontece em são paulo, mesmo sendo coisas loucamente diferente e estranhas, mas TUDO acontece em são paulo! isso que me faz amar a cidade.
adorei o post!
Boa quinta-feira. Beijos :*
O que me chamou atenção no que você escreveu foi o caso das plantinhas roubadas: aqui em Curitiba acontecia a mesma coisa nos calçadões do centro. A prefeitura as plantava e logo os pedestres as levavam embora, sabe-se lá para fazer o quê. Mas de tanto a prefeitura insistir e plantar mais flores toda vez que as antigas sumiam, a população começou a entender que aquele era o lugar em que deveriam ficar. Acho que essa história tem ares de lenda urbana, mas gosto dela. =]
Beijo!
belíssimo texto !!!!
beijo
Que pena eu ter pedido essa intervenção urbana! Gosto tanto... é motivo pra voltar logo ao centrão :)