amor com sotaque
o sonho da vida dela era se casar com um português.
ela não sabe bem ao certo o porquê, mas desde que começou a descobrir o que era amor encasquetou que ele seria da terrinha. e virava e mexia era a mesma coisa, estava no estádio e os olhos atentos, não na bola, mas no futuro pretendente. quem sabe? sempre se derreteu ao escutar alguns "ora, pois", mas a verdade é que a medida que crescia eles deixaram de se fazer tão presentes, pelo menos na boca de jovens, que sempre foi o que a interessava. e então aos 20 anos redondos ela se determinou: iria itensificar a busca. ao soprar as velhinhas, fez o tal pedido e desde então começou a frequentar tudo que se relacionasse ao tipo: jogos de futebol, clubes portugueses, reuniões com danças folclóricas e restaurantes. no começo tinha uma ideia ainda mais fixa e restrita: tinha a certeza de que ele seria bem branco, bem branco mesmo, com os olhos claros e pai cabeludo e grisalho. mas com o tempo foi abrindo algumas restrições, achando uns gajos morenos interessantes, os dentes sempre quadrados, e por que não os castanhos cacheados?
encontrou com um aos 21, antes da virada do aniversário, tinha um sotaque ferrenho, mas era lisbonense e o namoro durou pouquíssimo. apesar de ela ter torcido muito, pois tinha a certeza, certeza absoluta de que era ele, não deu certo. ele voltou para lá, trocaram algumas cartas, e-mails e facebook, mas terminou. o coração ficou tão pequeno que ela chorou quase um oceano inteiro, e praticamente desistiu de encontrar um novo pretendente. não saía mais para lugar nenhum e quando aparecia um português em novela (estava mesmo uma febre) o coração acelerava, saltitava, numa alegria triste...
até que um dia, aos 23, estava num casamento de uma amiga e enquanto tomava um drinque isolada sentada num puff preto no canto esquerdo do salão escutou ele dizer: "importas de eu me sentar?" o coração deu mil piruetas. era branco feito um palmito, tinha os olhos claros, o cabelo castanho cacheado e os dentes quadrados. nasceu no porto, o pai mantinha negócios lá e cá, e ele vivia na ponte aérea. no segundo encontro com a família ao ver os cabelos quase compridos e grisalhos do sogro teve a certeza. caso-se antes dos 24, teve quatro rebentos (dois de lá, dois de cá) que soltavam expressões como "fogo" e "ó pá, o que há?" e tornou-se a mulher mais feliz do mundo.
Comentários
Beijo querida, me visita!
Super leve e fofo.Quem é que não se derrete com um 'ora pois'?
Depois, tive minhas recaídas por finlandeses e gregos. Até cheguei aos portugueses com sua fala arrastada. Mas sempre volto pro meu italiano camponês. Eu sei, sou estranha :D
que história bonitinha! :3
Desculpa a demora Flá, mas é que está corrido aqui.
Sei beem o que é ter um português do lado! Meu marido não tem sotaque nenhum pois já nasceu aqui. Mas meu sogro, ah esse era legítimo! Adorava ouvir ele contando as histórias. Parecia que eu me transportava :)
Obrigada pelo carinho no blog. Com certeza passamos a mesma dor da perda. Ontem fez uma semana mas parece que é mentira sabe? Ainda dói, mas sei que ela está bem agora.
Beijos!
Repetindo... rs Achei legal seu texto. É tipo "O segredo" né? Vc acredita até que materializa! rs Quando tiver um tempinho essa semana, te responde o e-mail. Aquele assunto rende horrores! hehe
bjs!
Quero final feliz também! :*