desejo

queria estar com você agora.

naquela rede laranja velha, no canto esquerdo da casa de praia, do lado do corredorzinho cheio de flores e mato e de frente para todas aquelas orquídeas azuis. você estaria deitado de lado, sem camisa, com a sua velha bermuda branca e eu de biquini, com a saída de praia branca que você tanto gosta. a gente ainda ia estar cheirando a cloro e sal, teríamos acabado de almoçar e o sono viria com tanta força que não daria nem tempo de esperar a sobremesa. a gente dividiria a rede, você colocaria as mãos na minha cintura, encaixaria seu rosto no meu e eu ia sentir a sua respiração ficando cada vez mais espaçada, tranquila. e aí eu ia sentir aquela brisa suave que refresca a gente do calor, a árvore grande do jardim balançaria e eu ia adorar o som do balançar das folhas. o céu ia estar azul azul, quase sem nuvens, e quando apareceriam seriam bem brancas e soltas, feito pedaço de algodão doce. em algum momento um aviãozinho passaria lá no alto, mas tão lá no alto que a gente nem escutaria. a gente ia ficar assim, de pés entrelaçados, escutando o silêncio, até que você cairia no sono, como sempre antes que eu enquanto alguma criança passava na rua de bicicleta, empinando pipa, com baldinhos de areia e roupa de banho e eu ia agradecer e perguntar: por que não todo dia, meu Deus?