a árvore
fico aqui sentada no quarto da minha mãe, olhando pela janela. sinto falta daquela árvore que ficava bem aqui na frente, enorme, cheia de raízes, galhos. eu adorava ela porque fazia uma sombra em metade do quintal e porque dela caíam umas folhas secas, que quando eu pisava faziam um som gostoso e eu adorava. pedia pro meu avô abrir o portão pra mim só pra eu poder pisar lá fora e escutar e sentir aquela sensação boa. nesses momentos eu aproveitava pra abraçá-la, porque meu avô dizia que elas passavam energia, e que como nós, adoravam um abraço. de vez em quando uma formiga ou outra acabava me subindo pelo braço, mas eu nunca fui fresca com bicho e sempre tive dó de matá-los então eu fazia de um tudo pra devolve-la a árvore, acreditando que ela tinha tomado o caminho errado, e se eu não as colocasse de volta elas não iriam nunca mais encontrar o caminho de volta, e acabariam morrendo infelizes.
eu também tinha um sonho secreto: construir uma casa na árvore de madeira, com uma escada que viria de dentro de casa, assim só eu conseguiria subir. ela seria meu esconderijo secreto, e teria todo seu lado de fora pintado de violeta com rosa bebê. mas não deu tempo nem de dividir a vontade com o meu avô. alguém teve a péssima ideia de se irritar com a sujerada que a árvore fazia e também com o fato de as raízes dela criarem uma força descomunal e levantarem a calçada, quebrando tudo, e vieram uns rapazes da prefeitura pra tirá-la de vez daqui. lembro que conversei com o meu avô e pedi pra que ela ficasse, mas ele disse que tava precisando que logo ela ia quebrar o piso do quintal e eu disse que não tinha problema, depois a gente comprava outro e aí ele me olhou com aqueles olhos azuis e me deu um beijo na testa. fiquei na sala do meio, escutando aqueles barulhos terríveis deles serrando, tirando a árvore dali... lembro até hoje da sensação estranha que eu tive quando olhei pela janela e vi que ela tinha sumido, simplesmente não estava mais ali.
e hoje, tanto tempo depois, aqui parada e olhando lá pra fora, senti uma pontada triste no canto esquerdo do peito como se estivesse faltando alguma coisa em frente ao portão. mais de dez anos depois, a mesma sensação. acho que tem coisa que não muda nunca. que bom.
eu também tinha um sonho secreto: construir uma casa na árvore de madeira, com uma escada que viria de dentro de casa, assim só eu conseguiria subir. ela seria meu esconderijo secreto, e teria todo seu lado de fora pintado de violeta com rosa bebê. mas não deu tempo nem de dividir a vontade com o meu avô. alguém teve a péssima ideia de se irritar com a sujerada que a árvore fazia e também com o fato de as raízes dela criarem uma força descomunal e levantarem a calçada, quebrando tudo, e vieram uns rapazes da prefeitura pra tirá-la de vez daqui. lembro que conversei com o meu avô e pedi pra que ela ficasse, mas ele disse que tava precisando que logo ela ia quebrar o piso do quintal e eu disse que não tinha problema, depois a gente comprava outro e aí ele me olhou com aqueles olhos azuis e me deu um beijo na testa. fiquei na sala do meio, escutando aqueles barulhos terríveis deles serrando, tirando a árvore dali... lembro até hoje da sensação estranha que eu tive quando olhei pela janela e vi que ela tinha sumido, simplesmente não estava mais ali.
e hoje, tanto tempo depois, aqui parada e olhando lá pra fora, senti uma pontada triste no canto esquerdo do peito como se estivesse faltando alguma coisa em frente ao portão. mais de dez anos depois, a mesma sensação. acho que tem coisa que não muda nunca. que bom.
Comentários
Vida longa à árvore da calçada do vovô!
E que bom, que realmente, tem coisas que nunca mudam. No seu coração, a árvore vai estar sempre ali, e junto com ela, o sonho da casa rosa bebê!
Beijos linda!
Gostava muito de abraçar árvores também. Hoje em dia elas me parecem tão raras...
Gostei muito do seu jeito de escrever, parabéns!
São estas coisas que nos mostram que por mais que a vida nos magoe e transforme, a nossa essência permanece igual :)
Passando para lhe desejar um bom final de semana!
Beijos meus
Adorei o texto!
Beijos!
AL