pra que eu possa te ver de novo

foi a época que ela mais gostava das sextas-feiras. 
mas todo mundo gosta das sextas-feiras, você pode dizer. não como ela. não como naquele tempo. ou ainda: não pelas mesmas razões. ela já acordava de um jeito diferente, o relógio contava as horas em alto-falante e era seu maior companheiro (inimigo?), faltava pouco, muito pouco, quase nada. 

já dizia Saint-Exupéry, "se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz". e era justamente nesse horário que ela passava a sentir o coração bater no ritmo do relógio. tomava banho, escolhia a roupa com cuidado, colocava o cd do nando reis pra tocar. e às 6h da tarde? era aurora! 

colocava o celular pra tocar jack johnson e ia caminhando até chegar na rodoviária. nunca vi alguém gostar tanto de chegar em uma. milton nascimento talvez tivesse vivido algo parecido quando compôs "encontros e despedidas", só alguém que já passou ali algumas horas poderia escrever algo como "me dê um abraço venha me apertar/tô chegando". na época ela não se interessava por milton nascimento, pouco sabia sobre Saint-Exupéry e mal sabia cantar as palavras em inglês que jack johnson tão bem sussurrava em seus ouvidos, mas isso lá importava? era o que ela sabia sentir e sentir às vezes é algo que não tem explicação. ou na maioria das vezes.

enfim, ela chegava ali, fazendo questão de se antecipar alguns minutos, ainda que o ônibus sempre atrasasse, para poder vê-lo descer do ônibus. os headphones nos ouvidos, a camisetona larga de surf fazendo propaganda gratuita da volcom, os tênis da vans, mochila da quicksilver nas costas.  se já estava feliz desde às 3h, não sabia nomear a alegria quando os olhares se encontravam às 6h30. eram beijos e abraços e um boné atrapalhando. tinha bob's na rodoviária e o mundo ficava ainda mais completo com um milkshake compartilhado. começavam o final de semana ali, em plena sexta-feira, com gente cansada reclamando em volta enquanto o diálogo a seguir lhes parecia paraíso:

_ cinema hoje?
_ pode ser em casa?
_ na sua?
_ meus pais não estão, viajaram. - beijinho beliscado no queixo - e não tenta esconder esse sorriso que ele já tá aí de orelha a orelha. 


Comentários

Anônimo disse…
Chuva de pensamentos,
Tempestade de questionamentos,
Serão sentimentos?

Talvez um devaneio,
Por que não,
Um conto de ficção?
Sei não!

Só sei,
Que quase nada sei!
Mas com uma certeza viverei,
Que lindas lembranças,
Para sempre guardarei!

Aquele "bora" convidado,
Timidamente aceitado,
Apaixonado,
E finalmente estacionado.

Postagens mais visitadas