este ano eu caso

eu tenho vontade de falar sobre o casamento. 

como dizia camelo, até quem me vê lendo o jornal na fila do pão, sabe que eu encontrei o amor da minha vida. mas não basta só que eles saibam, eu sinto vontade de falar detalhes, destrinchar os pormenores nem que seja com a depiladora que também faz massagem... e então eu aproveito pra dizer que este ano eu caso, e que seria bom fazer uma massagem alguns dias antes. também me parece útil comentar com a moça que lava o meu cabelo e me indica uma nova hidratação, porque este ano eu caso e preciso que meus cabelos fiquem bem até lá. dá vontade de comentar com os meus alunos, quando estamos discutindo sobre o dia internacional da mulher, e neste ano eu caso e caso com alguém, mas aparentemente a sociedade acredita que só eu devo fazer o serviço de casa. também valeu a pena comentar com a moça da documentação, pra que ela agilize o processo, tudo está demorando demais, ficando muito em cima da hora, e bem, precisamos apressar as coisas, afinal de contas, julho está aí e é neste mês que eu caso.

aqui dentro de casa eu também falo sobre o casar. mas falamos muito mais sobre a festa. são tantos detalhes! o envelope, a cor da decoração, os bem casados, o tom dos vestidos das madrinhas. falamos sobre isso o tempo todo, minha mãe e irmã preocupadas com o chá bar, meu pai fingindo não escutar e nós tagarelando, tagarelando, sobre o arranjo da minha cabeça, o dia da noiva e onde ficarão meus livros. e então a gente para de falar. porque tudo bem falar da festa, mas falar sobre eu sair de casa já é demais.

é como se tudo fosse uma despedida. outro dia coloquei florence and the machine pra tocar às 22h e chamei minha irmã pra ouvir e dançar no escritório como tantas vezes a gente faz. dançamos felizes, mas tive que me controlar pra não chorar. me peguei voltando pra almoçar em casa numa quinta e pensando se isso vai ser possível daqui quatro meses. o endereço que eu coloquei no passaporte também me lembrou que daqui um tempo essa casa será 'a casa da minha mãe'. quando meu cachorro fez festa, no minuto em que eu cheguei acabada do serviço, pensei que em 100 dias. talvez menos, eu não o terei como anfitrião. e isso continua no momento em que eu acordo, com o toque suave das mãos da minha mãe, quando meus pais brigam na mesa e eu troco olhares tão cheios de significado com a minha irmã, quando eu acendo a luz do quarto e ela resmunga, porque quer dormir. e então falar sobre isso não é tão gostoso assim. prefiro os envelopes. ou a moça da depilação. 

esse ano eu caso e eu nunca vivi misto tão grande de sensações. é a certeza mais profunda da minha vida, mas é também o novo, a despedida, o medo, a insegurança, a vontade e o tesão. todo mundo me perguntando, todo mundo querendo saber, enquanto eu olho pro anel que vai no dedo esquerdo da minha mão. 

ele muda de lugar daqui três meses.
eu também. 

Comentários

Nathy disse…
Sei bem como é todo esse sentimento. E aproveita! Cada dia, cada detalhe, cada sentimento. É maravilhoso!

Tudo de melhor pra vc!!!!
K. disse…
Esse ano eu também caso! Sumi, mas apareci de novo!
Hoje, oficialmente, faltam três meses para o meu casamento. Eu li seu texto, e me vi aí, apreciando cada momento com a minha família no lugar que no futuro será "a casa da minha mãe".
Fico imaginando como será ficar sem vê-los todo dia, se meu quarto (meu cantinho mais gostoso do universo) será transformado radicalmente em outro cômodo da casa.
Estou um misto de sensações: sensações novas, antigas, boas, ruins, ansiosa, receosa, tudo quanto é jeito! Deve ser mal de noiva!
Só que ainda não experimentei aquela sensação que todas elas falam: "Emagreci horrores pro meu casamento" . Infelizmente a balança não muda!

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