primeiro beijo

eram dois meninos e três meninas na porta do banheiro.

alguns com doze, outros já beirando os treze anos. o banheiro era o maior de todos e ficava no último andar do pequeno colégio, que depois das seis da tarde era praticamente inabitável. só ficavam ali os alunos que praticavam algum esporte, como dança e escolinha de futebol, exatamente o caso dos cinco. também não se subia no terceiro andar do colégio aquele horário, mas o gostinho do proibido já habitava a mente dos chamados pré-adolescentes. as meninas já tinham sapatilhas nos pés e os meninos calçavam meiões e chuteiras, chupando chicletes à porta do banheiro. um deles e uma delas tinham borboletas no estômago: estavam prestes a cometer o primeiro beijo.
o local escolhido não podia ser menos romântico, mas a adrenalina era tanta que ninguém ligava. eram uma, duas, três, quatro, cinco, seis, seis cabines, e a escolhida era logo a última. a menina loira havia colocado uma fita no cabelo e estava com um medo danado. a amiga mais velha a olhava tentando acalmá-la "lembre-se de abrir bem a boca e tente não morder o menino. vai dar tudo certo!". a amiga do meio, a mais carola, quase que ia mais nervosa do que a felizarda da noite, olhava-a com medo, queria adiantar o relógio, arrumava as sapatilhas à todo instante e perguntava a todo momento "você tem certeza?".
ela tinha. e eles não tinham mais tempo a perder. os meninos brincavam e riam, mas um deles, o moreno baixo estava tão nervoso que mal conseguia parar as pernas. todos prontos? prontos. a loira já esperava no último banheiro, a porta da cabine fechada, e ouvia o coração bater novecentas e setenta e oito vezes a cada passo dele que se aproximava. estavam um de frente para o outro, a privada logo ao lado, completamente esquecida. já iam pondo desajeitados os braços nos ombros quando a mais velha bateu e entrou rapidamente, puxando a loira para fora e enfiando-lhe um trident de menta na boca enquanto dizia "quase me esqueci deste detalhe".

enfim sós novamente. ele olhou pra ela, ela quase tremendo, finalmente disse num sussuro. "você está com medo?", "muito", ela respondeu, o coração gritando. "eu também", ele soltou, com voz fina. ele arrumou uma mecha do cabelo dela atrás da orelha e com os olhos fechados, beijaram-se. se você perguntar a sensação do beijo naquele dia para qualquer um dos dois, nenhum saberá responder. mas vão dizer que foi bom, muito bom, e a verdade é que foi mesmo. gostavam-se. voltaram andando no corredor escuro, os amigos espantados, também nervosos com sorriso nos lábios. iam de mãos dadas, olhavam-se encantados e despediram-se com um selinho de até amanhã à porta. eram completamente felizes.

Comentários

A ingenuidade é uma dádiva.
Laís Pâmela disse…
Por que perdemos essa mágica?
Gabriela Freitas disse…
"Por que perdemos essa mágica? 2"
História real Flá? rs se não for parece muito, sério.
Ainda lembro do meu e foi mais ou menos assim, tirando o fato de que o garoto já era mais experiente, bem mais, do que eu.
Anônimo disse…
Ah, eu pude sentir a sensação só de ler o texto, como um filme.
Andressa Tavares disse…
nossa...
refleti sobre isso... e é verdade, pra que perdemos essa pureza né?
Ana Luísa disse…
Ô meu Deus, lembrei tanto do meu primeiro beijo! hahaha
Isadora disse…
saudade desse tempo bom :)
gabi disse…
Eu queria que o meu tivesse sido simples, bom e belo como esse. Foi um desastre, hahahaha.
aline disse…
eu adoro o gosto de 'como se fosse a primeira vez'.
Abstrações disse…
Mais 13 anos é muito precoce!!! xD
Lara Mello disse…
O meu foi atrás da cortina na casa da minha avó.. Foi bom =)
Thay disse…
Mas que bonitinho! E, por mais estranho e constrangedor que seja, é assim mesmo que acontece! HAHA, a inocência é uma coisa bonitinha de se ver. :)
Ótimo texto, como sempre! Beijo!
Milena M. disse…
Que gracinha, Flá! Bateu saudade dos meus tempos inocentes.
Beijo!
Carolina disse…
Que DELÍCIA de texto!
Preciso falar que o gosto do Trident de menta me veio à boca assim que li. Gosto de inocência... ah! Saudade daquele tempo feliz.

Um beijo

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