memórias contadas

e aí chegavam os meninos. os meninos e as meninas, a cambada toda de crianças. sábado a tarde, antes mesmo das 3, porque às 4h se tomava o café da tarde e todo mundo almoçava cedo, não é como agora que se almoça as duas horas da tarde.
aí os homens ficavam na sala assistindo algum jogo ou corrida, principalmente corrida, acredite se quiser, mas o Senna era uma coisa única e ótima, porque não dividia ninguém, era unânime, todo mundo sempre gostou dele, então raramente eles brigavam. seu vó ficava lá na poltrona dele, sempre com as leituras dele na mão, fazendo um comentário de quando em vez, sempre sereno. enquanto isso as mulheres iam chegando na cozinha, puxando as cadeiras e conversando, né? por que é isso que a gente faz. imagina aquele bando de cunhada falando da novela, da fulana, da sicrana, do trabalho ou da falta de trabalho. e então a vó decidia passar um cafézinho e aí a gente ajudava, uma punha a toalha de mesa, a outra colocava os pires, a outra chegava com as facas e pronto, menos de dois minutos tava tudo posto aquela coisa simples e todo mundo sentava de novo e recomeçava o falatório.
os meninos corriam naquele corredor, porque eu não sei oque acontece com criança, que tem mesmo que correr, naquela época parece que mais ainda, e era aquela agonia, porque não tinha sábado que um deixasse de se machucar. aí punha o curativo, o merthiolate, daqueles que ardiam mesmo, as coisas eram diferentes naquele tempo. e sempre vinha um com a desculpa de "to sentindo um cheirinho de bolo", e não tinha bolo nenhum no forno, mas sua vó limpava as mãozinhas no avental e perguntava "bolo de quê, filho?" e aí um deles respondia, vamos supor "de meleca", que é aquele bolo de nada com pedaço de goiabada dentro. sua vó já ia pegando as panelas e sua mãe, que era a mais nova e que sempre teve jeito com as crianças, já ia pegando as cadeirinhas e bancos e pondo perto da pia, porque era aquela loucura, você imagina, de "eu quero mexer!" "eu quero por a farinha" "posso quebrar o ovo, tia?", e pá pum. menos de uma hora o bolo tava na mesa, a pia limpa e as crianças comendo, lambendo os beiços, com o bolo quente mesmo, porque naquela época não tinha essa frescura de deixar esfriar pra não dar dor de barriga. não tinha essas coisas não. era tudo tão mais simples...

(e feliz)

Comentários

Ana disse…
Simplicidade que faz falta, né

Gostei
Ana Luísa disse…
Ei Flá! Consegui ver tanta coisa igual na minha infância.. Todo final de ano, quando vou de férias pra casa da vovó, percebo e sinto a mesma coisa, o que é bom! Mas dessa vez eu estou do lado das que ficam matraqueando, enquanto observa as crianças brincando.. Passar férias lá é como um oásis, hehe.
E puxa, que bom que gostou do conto, morro de receio de escrever contos.. eles me saem sempre tão bobinhos aos meus olhos.. =P
Beijos!
Lara Mello disse…
Obrigada por seguir! :)
Gabriela Freitas disse…
Simplicidade que faz falta, né +1.
um dos meus cantinhos preferidos
são essas pequenas coisas que talvez me estejam fazendo muita falta hoje.
Aline Goulart disse…
Ohhhhhh saudades!!! Tempo inesquecível. Beijinhos...
Fred Caju disse…
Massa como você conduz as palavras. Muito bom ler o que sobrou de suas(?) lembranças. Abraços!
► JOTA ENE ◄ disse…
ººº
Gostei da narração ... voltarei!
Ruan Antoni disse…
Achei seu blgo por acaso , mas ja estou amando isso aqui viu? amei memorias contadas, você soube expressar a verdadeira simplicidade da vida !
Sucesso :)
Unknown disse…
olha eu aqui de volta.
de volta das cinzas, ne?
com alguns poucos posts aguados no bolso, e sem cara pra aparecer por essas bandas e dizer que ainda tô viva!!

:D Bjus! *saudades*
dreycka
Malu Azzoni disse…
é mesmo, simplicidade que faz falta, sem formalidades. família é isso.

seus textos tem estilo, são muito bonitos viu?

beijão
2edoissao5 disse…
saudades do Senna, com ele se foi tambem muita alegria dos domingos...

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