sétima série

eu me lembro da minha sétima série. eu escutava com freqüência de primos e primas mais velhos – visto que só perco pra minha irmã como caçula da família – que era o ano mais difícil da escola. pra mim não foi. eu lembro que foi mais ou menos naquela época que eu descobri legião urbana, cazuza e cia. e nós passávamos boa parte do nosso tempo escutando esses CDs no diskman e muitas vezes revezávamos os fones de ouvido. Era delicioso.

lembro bem também dos campeonatos que a gente tanto gostava. ganhar um jogo da olimpíada era ganhar a copa do mundo do bairro e dávamos tudo da gente, inclusive nos gritos de guerra, as meninas desfilando penteados e os meninos desfilando suas chuteiras. nós meninas, ainda tínhamos as apresentações de dança pra se preocupar, a fantasia, a sapatilha.

acho que o som mais comum daquela época era a risada. eu me lembro dela presente na maior parte do tempo, senão em todo tempo. existiam diversos grupos bem definidos, o dos nerds, o das patis, o dos engraçados, e a gozação era a coisa mais comum do mundo. acho até que eu podia ter metido um processo em bastante gente por me chamarem de Olivia palito naquele tempo, mas eu estava mais preocupada em devolver a brincadeira dizendo que o outro parecia um anão, pra voltar p/ casa logo e assistir mais um capítulo de malhação. o resto do tempo eu passava sonhando. lembro bem de um dia que um dos meninos levou um sinalizador, destes que soltam fumaça colorida em estádio e teve a brilhante idéia de acendê-lo na sala de aula. um outro, mais inteligente ainda, desesperado por não saber apagar aquela coisa acabou jogando no lixo que obviamente acabou estourando e por pouco não pegou fogo. foi um rebuliço geral, e por ninguém querer dedurar quase meia sala acabou advertida. ainda hoje eu dou risada de lembrar daquele dia.

mas eu não me lembro mesmo de ter medo de ir pra escola ou de ter um louco atirando covardemente em nenhum de nós sem propósito algum. não me lembro de sangue, de tiro, de gente chorando desesperada, de amigos indo embora como um piscar de olhos. eu não me lembro disso e eu queria muito, profundamente, do fundo do meu coração, que nunca ninguém tivesse esse tipo de memória. queria muito que todas essas crianças do rio acordassem com a gente desse pesadelo terrível e vivesse uma sétima série comum, banal. feito a minha.

Comentários

Camila Serrati disse…
Então! Eu ainda to chocada com tudo isso, é uma crueldade sem fim, olha só a que ponto chegamos! Crianças que hoje deviam estar se divertindo e rindo atoa, agora estão internadas e muitas traumatizadas psicologicamente e isso é uma coisa que pode atrapalhar elas a vida toda! Acho que todos também desejam a mesma coisa, apenas acordar desse pesadelo. ):
Dri Andrade disse…
Otimo texto. Parabéns.Tbm estou triste e assustada com tudo isso. Mas não quero encher meu coração de revolta, deixo nas mãos de Deus.
Primeira vez que venho aqui. Vim pela Nathy. Gostei muito vou voltar beijos
Hope* disse…
Oi Flá! Muito bom lembrar de um tempo em que ainda podiamos nos dar o direito de sermos "banais"... Hoje qualquer um tem que viver em alerta, inclusive as crianças na escola... Absurdo monstruoso esse! Obrigada pela visita, volte sempre pra papear...

Bjk!
Aline Goulart disse…
Primeiramente, muito obrigada pela sua visita no meu Blog, quando quiser volte sempre, será bem vinda. Gostei muito do seu Blog também. Sobre a postagem, eu estou até agora em estado de choque. Ontem chorei bastante, não acreditava naquilo, mesmo sabendo que o ser humano é capaz a chegar esse ponto. Por mais que eu viva no mundo jurídico, onde casos como esse de tamanha crueldade ocorrem, nunca pensei que um atirador iria entrar em uma ambiente onde todas as crianças deveriam estar (na escola). Beijinhos e voltarei.
Gabriela Freitas disse…
Muito bom!
Este acontecimento no Rio marcou não é? Foi longe de mim, não conhecia as pessoas e mesmo assim pude sentir a dor daquelas crianças, dos pais delas, dos colegas, a dor inteira não, um quarto, e já foi muito...
Gabriela Freitas disse…
Sabe...fiquei pensando, na familia dessas 11 crianças que se foram, os pais que os deixaram com segurança na escola na epectitativa de ir busca-los na saida e eles nunca mai vão sair...
Pensei em quanto é díficil pensar nisso, em perder alguem desta maneira, não apenas por todos terem sidos pegos de surpresa, mas por ser algo brutal, violento demais. Fiquei pensando, só pensando, no final eu acho que tudo está perdido..de vez.
C.S.N. disse…
Psicopata aquele cara que fez isso nossa!
eu que nem cheguei na sétima série ainda, estou morrendo de receio e medo. Olho pra porta em cada minuto para tentar impedir que algum doido varrido vá na sétima série e faça o mesmo que o cara do rio. Isso chocou todo mundo e o covarde mata todo mundo e não quer pagar pelo que cometeu achando que mesmo se matando o vazio daqueles pais irá se preencher:C
Ana Luísa disse…
Que texto lindo, Flávia. Eu comecei a ler e já fui pensando no que eu contaria da minha 7ª série no meu comentário, mas acho que da forma como o texto terminou eu só tenho que dizer que realmente, graças a Deus essa é uma lembrança que eu estou longe de ter, e uma lembrança a qual eu desejo do fundo do meu coração que ninguém tivesse.
=/
Beijos
Anônimo disse…
Tão bom lembrar de coisas assim, que fizeram parte do nosso passado e nos trazem bons sentimentos.

Eu tambem me recordo mais de pouca coisa, não sinto vontade de envelhecer. rs


beijos linda.

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