45 minutos de silêncio

Entrei no ônibus ontem e um silêncio. Nem um som na boca de ninguém, nenhuma conversa de canto, as risadas altas costumeiras, o papo com o cobrador, os telefones celulares em som alto, nada. Silêncio total. Dava até pra escutar o barulho da catraca girando, o apito tímido dos bilhetes únicos passando, o trocar de marcha do ônibus realizado pelo motorista. Ninguém olhava pra ninguém, cabeças baixas, mergulhadas em pensamentos ocultos. O dia estava aberto, o sol da primavera enfim apareceu, o céu claro, mas o ar estava pesado, carregando uma energia triste, esgotada.

Fiquei procurando qual a razão para aquilo tudo, mas me vi em silêncio, dentro do pensamento algumas imagens passando, talvez tomada pela atmosfera do lugar. E foi assim com todos aqueles que entravam, fazendo barulho ao andar pelo corredor do ônibus, ao esbarrar a mochila sem querer no ônibus apertado. Cada um daqueles que entrava ia pouco a pouco mergulhando no silêncio, entrando em algum pensamento profundo dentro de si.


45 minutos de trajeto submergidos no silêncio, que não permitia entrar dentro do ônibus as buzinas paulistanas, o caótico trânsito de São Paulo.


Não dá pra saber o que ia na cabeça de cada um deles. Podia, é claro, ser o dia, plena segunda - feira, mas há quantas segundas feiras eu não pego ônibus e nunca senti nada daquele jeito. Podia ser o calor as pessoas podiam estranhar a mudança de clima - mas querendo ou não é sempre motivo pra papo, pra comentário com a pessoa do lado. Podia ser coincidência e não ter ninguém acompanhado no ônibus, todo mundo entrando sozinho e querendo raciocinar o que fazer durante o restante da semana - mas eu não acredito em coincidências e há sempre alguma conversa em qualquer ônibus.

Podia, podia ser qualquer uma dessas coisas, mas eu realmente acredito, que de uma forma ou de outra, aquelas pessoas estavam reconsiderando a vida, num luto que assolou o ABC Paulista e o Brasil.

Que ela descanse em paz.



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